terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

F.C.Porto-Málaga, 1-0 (crónica)


A fábula do gigante. Mágica, enternecedora, conciliadora de desejos e aspirações ao altar europeu. O gigante esmaga, o gigante arrasta e marca. Impressiona pela inteligência, diligencia com urgência, rodeia-se de uma plêiade sabedora e de confiança: João Moutinho, o gigante, faz deste F.C. Porto cada vez mais maior.

O golo, prémio justo ao autor, sabe a pouco. A diferença entre dragões e andaluzes foi bem superior a esse detalhe. No Dragão, os dois mundos raramente se tocaram. O Porto é maior, é melhor, tem a obrigação de se fazer ouvir no La Rosaleda e seguir em frente.

Sem ser oficial, o documento é reconhecido por todos. Neste relvado, os resultados indicam que o predador é o que lá vive e as presas são o que o visitam. É a lei dura de uma selva azul e branca e raramente a lógica deixa de prevalecer.

Neste jogo de Champions, o quarto classificado da liga espanhola não foi exceção. Entregou-se ao papel de expetativa assustada, de ambição triturada pela posse de bola, de dúvida perturbada perante uma gentileza que enleia e engana. 

Helton teve noite descansada, tão poucas foram as bolas que lhe chegaram. O Porto foi ditador em terreno minado, fez uma pressão alta asfixiante e justificava, insistimos, muito mais do que um mero golo. 

Esse chegou, já com atraso, aos 56 minutos. Nasceu no génio de um Alex Sandro impressionante (aguentou duas cargas antes de cruzar) e morreu na baliza do Málaga, empurrado com altivez e cavalheirismo pelo gigante de nome Moutinho. 

Os espanhóis pediram fora-de-jogo. Com razão. No estádio foi impossível atestar a veracidade dos protestos, mas a televisão anulou a dúvida. Justiça poética?

Voltemos a Moutinho. O que jogou, o que fez jogar, o que debruou na noite do Dragão é world class. João Moutinho já é um dos melhores médios do mundo, um honoris causa na arte do passe, da visão, do futebol cerebral. 

Toda a consciência mágica do F.C. Porto esteve armazenada no cérebro deste gigante, mas outros houve em grande plano. Alex Sandro, já o referimos, Fernando, Jackson, Otamendi. 

Este Porto cresceu bem. Descobriu a segurança do futebol horizontal, a coragem da verticalidade e observa como poucos a relevância da circulação de bola. É como se o sangue do seu organismo circulasse também nesse ciclo que atrai e encanta. 

Pena é, lá está, que tamanha superioridade não permita ir totalmente tranquilo a Málaga. Apesar de rebaixado ao estatuto de figurante sorridente, o emblema espanhol sai vivo da refrega e a acreditar que é possível fugir à eliminação. 

Izmaylov esteve a centímetros de marcar, Fernando escorregou quando podia ter feito golo. Duas ocasiões mais numa noite controlada durante 90 minutos pelos bicampeões de Portugal.

O futebol dispensa certezas e foge de título feitos à pressa. Os sintomas, porém, apontam num sentido claro: há Porto, há Champions, há um gigante mandão a querer aparecer na Europa. 

Esta fábula merece mais capítulos na Liga dos Campeões. 


in "maisfutebol.iol.pt"

4 comentários:

Dragus Invictus disse...

Bom dia

Domínio e controlo absoluto, com laivos de classe, marcaram a vitória da 1ª. Mão dos oitavos.

As estrelas do Málaga nem cintilaram perante o domínio, controlo e classe do futebol portista.

Os andaluzes foram impotentes, e limitaram-se a ver jogar, e bem que se podem dar por satisfeitos por levar na bagagem uma derrota pela margem mínima.

Moutinho e Lucho no miolo foram gigantes, Alex Sandro espalhou magia pela asa esquerda, Izmaylov e Jackson foram formiguinhas de labor e colocaram a cabeça em água dos defesas contrários, mas acima de qualquer destaque individual está sem dúvida o colectivo.

Fomos compactos e solidários a defender, executando uma pressão constante no portador de bola de saída andaluz.
Os sectores estiveram unidos, e tudo isto levou a que dominássemos por completo todos os momentos de jogo.


Com esta equipa podemos sonhar alcançar fases cimeiras da competição, para tal basta manter os predicados exibidos na noite de hoje.

Parabéns ao mister VP pelo excelente trabalho desenvolvido e pela união e solidariedade que criou no seio da equipa.

Vitória justíssima que peca por escassa no regresso o FC Porto às grandes noites europeias.

Abraço e boa semana,

Paulo

Pronunciadodragao.blogspot.pt

dragao vila pouca disse...

Faltou Cha a um Porto de honra

42.209 espectadores, grande ambiente, muito entusiasmo, muito apoio do público portista, mas também de realçar o forte apoio ao Málaga, por parte de mais de 3000 espanhóis.
Jogo grande, de Champions, intenso, disputado, daqueles que o tempo passa a correr. Porto melhor, muito melhor, numa exibição de qualidade e que justificava, pelo menos, mais um golo.
Entrando forte, concentrado, organizado e pressionante, apesar de algum nervosismo atrás, no início do jogo e por parte de Mangala, o conjunto de Vítor Pereira dominou os 45 minutos iniciais e fez o suficiente para ir em vantagem para o descanso. Não foi, porque apesar de ser dono da bola, procurar atacar bem por ambos os lados, ter jogadas de belo efeito, como disse há dias atrás, falta à equipa portista a contundência no último terço do campo, o poder de fogo que ajuda a desbloquear as situações mais complicadas. Isso e hoje, um Cha Cha Cha, complicativo, abaixo das suas possibilidades e a tentar forçar nas jogadas individuais, quando se pedia toque, desmarcação e objectividade - tem a seu favor ter de lutar contra uma dupla de centrais fortes e que nunca lhe deram tréguas.

A etapa complementar foi muito parecida com a primeira, mas com duas nuances que merecem referência: uma, obviamente, o golo de Moutinho, o melhor jogador em campo - houve outros muito próximos na qualidade exibicional, mas fica mais lá para a frente. Outra, a partir do minuto 75 começou a faltar ao F.C.Porto a frescura física que teve até a esse momento. Normal, primeiro, porque foi a equipa portista que teve toda a despesa do jogo e isso desgasta. Segundo, porque jogos com este ritmo e intensidade são raros no futebol português, isso vira-se contra a equipa azul e branca. E assim, mesmo com técnico portista a mexer bem - apesar de me parecer que Izmaylov devia ter saído primeiro que Varela -, Atsu ter cumprido e James já ter dado um cheirinho da sua qualidade - Castro entrou já no fim -, já não havia a clarividência, nem a capacidade explosiva para ir mais longe.

De toda a maneira e apesar da superioridade do F.C.Porto merecer mais um golo, foi um resultado que permite encarar a segunda mão com optimismo e sonhar com a passagem aos quartos-de-final. Não vai ser fácil, a equipa espanhola a jogar em casa e apoiada pelo seu público - hoje deu para ver como será esse apoio...-, vai ser um adversário complicado, mas acredito na capacidade, qualidade e experiência do bi-campeão português para seguir em frente. Com o Málaga a ter de correr atrás do prejuízo e para isso ser obrigado a dar mais espaços, acredito na capacidade da equipa portista para marcar, mas para isso temos ser eficazes e aproveitar as oportunidades.

Abraço

Penta disse...



caro Paulo, caríssimas(os),

grande jogo! bravos heróis! valente Vítor Pereira!
(resultado só peca por escasso. e a «gloriosa» azia espanhola é... a cereja no topo do bolo)

ps:
mesmo com tal confiança, ainda faltam (espera-se que só) noventa minutos.


somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II

Rui Anjos (Dragaopentacampeao) disse...

Bela exibição num jogo de uma só via, em função da asfixia do futebol portista que obrigou o Málaga a recuar no terreno durante toda a partida.

O resultado pela diferença mínima tem a ver com a falta de eficácia no remate. Izmaylov perdeu um golo quase certo, no início da segunda parte, quando bem colocado, perto da baliza, meteu mal o pé e a bola perdeu-se escandalosamente pela linha de cabeceira.

Gostei de toda a equipa, que actuou ao seu melhor nível, banalizando um adversário que tinha dominado o seu grupo, com Milan e Zenit. Não posso porém deixar de destacar dois nomes que foram enormes: Alex Sandro e João Moutinho, curiosamente os protagonistas do golo.

Um abraço