terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Fernando, eficiência e discrição


Fernando ainda era um jovem de 21 anos recém-chegado ao FC Porto quando se deparou com a missão de conter o ataque do Manchester United – liderado, na época, por Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney – nas quartas de final da UEFA Champions League de 2009. Sua falta de experiência, no entanto, acabou não pesando: embora não tenha evitado a eliminação dos Dragões, o vigor físico invejável na marcação dos astros rivais e a ótima proteção à defesa renderam elogios – e até algo mais – ao volante brasileiro.
Logo após aquela série, Fernando também receberia um apelido tão carinhoso como incomum da torcida portista, um símbolo da estreita ligação estabelecida entre ambos a partir dali. “Lembro que o pessoal começou a me chamar de ‘Polvo’, mas eu não entendia muito bem”, revela o jogador ao FIFA.com. “Mais tarde me explicaram: era porque eu estava em todos os lados, corria muito e parecia que tinha muitas pernas. Era um bom sinal de reconhecimento”, completa ele, rindo.
Se o estranho apelido pegou foi apenas porque Fernando continuou mostrando nas temporadas seguintes a mesma intensidade e eficiência daquele confronto contra o United. Melhor ainda, fazia-o com discrição, com um número baixo de cartões e a raça típica – e fundamental – de um volante de contenção. Foram essas as marcas que levaram o goiano a se tornar titular indiscutível, uma espécie de pilar que sustentou três gerações vencedoras do FC Porto.
“É uma marca minha. Sempre fiz o que a equipe precisava para conseguir os resultados”, aponta. “Não apareço tanto por causa disso, mas acho que ser discreto às vezes é positivo, porque mostra o quanto estou me doando para a equipe. Faz parte da minha função.”
Mesmo sem “aparecer tanto”, Fernando foi acumulando títulos – uma UEFA Europa League, três Liga ZON Sagres, duas Taças da Liga, entre outros –, respeito e importância nos cinco anos que permanece no clube. Tanto que, ainda aos 25, já se vê como um dos mais experientes ao lado de nomes como Hélton, Lucho González ou João Moutinho – este que, aliás, chegou ao clube depois dele.
“O FC Porto trabalha sempre com jogadores jovens, se renovando, então posso dizer que sou um dos mais experientes, sim. Também pelo fato de jogar em alto nível já há muito tempo”, explica Fernando. “Os jovens – como o Danilo, Alex Sandro ou mesmo James Rodríguez e Kelvin – perguntam sobre minhas experiências e tento explicar como cheguei até aqui. Falo da adaptação, dou conselhos de como se acostumar com o futebol daqui e se dar bem. Não sou velho, mas me considero um jogador rodado e bem sucedido.”
Discrição não rima com Seleção
Ao mesmo tempo em que goza de prestígio em PortugalFernando precisa conviver com o fato de ser um “esquecido” em seu próprio país. Não foram poucos os companheiros e até rivais que se perguntaram por que um jogador tão constante não vestia a camisa da Seleção Brasileira. Recentemente, Lucho González, foi até mais longe: "Nunca se fala do Fernando, mas é um jogador que tem demonstrado nível internacional. Não compreendo como não é titular na Seleção."

Isso mesmo, titular. Para a incompreensão do colega, Fernando não tem resposta. “Acompanho sempre as convocações e mantenho as esperanças. Recebo cartas e pedidos falando sobre seleção; o que posso dizer é que sigo trabalhando”, garante. “A minha visibilidade é grande na Europa, mas não no Brasil, porque saí cedo de lá e, hoje, jogo como um europeu, com uma característica diferente da do volante brasileiro.”
Essa característica, explica ele, não era bem vista por técnicos como Mano Menezes, que sempre preferiu volantes ofensivos. E, se Fernando é exatamente o oposto, o que o faz seguir sonhando é justamente a volta de Luiz Felipe Scolari, um conhecedor do futebol português – treinou a Seleção das Quinas entre 2003 e 2008 – e, sobretudo, um técnico que se consagrou utilizando um volante mais recuado.

“Acho que esse meia que dá equilíbrio, como o Gilberto Silva e o Dunga antes, está em falta noBrasil, e isso pode ser algo positivo para mim”, analisa. “Por isso sigo com expectativa de que possa surgir uma oportunidade. Sinto que, em breve, ele vai sentir falta de um volante assim.”

O próprio Gilberto Silva, em conversa recente com o FIFA.com, havia comentado sobre essa transformação do volante quase em um meia de ligação, dando mais asas para os sonhos deFernando. “Você ouve gente falando em ‘volante moderno’, como se aquele que não participasse do ataque fosse ultrapassado”, explicou o pentacampeão mundial. “Eu fui criticado por essa função que sempre fiz, de roubar bolas. Mas, hoje, a gente vê uma leva de zagueiros com essa incumbência de fazer o ‘jogo sujo’. Talvez no futuro haja um retorno ao que era antes.”
Quem espera...
Enquanto segue aguardando, Fernando não para de trabalhar para ajudar o FC Porto em diversas frentes. Correndo por todos os lados, ele espera conquistar seu quarto título nacional com a equipe e “avançar o mais longe possível”, como diz, na Liga dos Campeões, começando pelo duelo desta terça-feira contra o Málaga, pelas oitavas de final. Exatamente como fez naquela campanha de 2009.

“Será uma série equilibrada, porque são duas equipes com as mesmas dimensões. Por isso, precisamos fazer um boa partida em casa”, aposta. “O grupo está forte, com boa dinâmica, e tenho certeza de que conquistaremos mais títulos nesta temporada.” Quem sabe com isso, então, venha um pouco mais de exposição para Fernando. Só pode ser assim, de forma coletiva, para alguém que esbanja tanta discrição.

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