sábado, 8 de junho de 2013

A cultura popular e o FC Porto


Os académicos contrapõem a cultura elitária e erudita à cultura popular, que é de todos! É polémico.
Mas também é um facto que a retórica, complexa que é, subverte, no geral, a mensagem. O complexo parece dar poder!
A cultura não é só Serralves, a Casa da Música, a Lello ou a Bertrand. É-o o São da Pedro da Afurada, a Feira das Fontainhas, o Senhor da Pedra de Arcozelo, as Festas da Senhora da Agonia, o São João.
Futebol também é cultura. Popular. Como Fátima, a seu modo.
Futebol das manifestações genuinamente populares, das vivências, dos sentimentos entusiastas, assanhados de milhares e milhares de cidadãos por esse país para dentro e para fora!
Das alegrias sem fim, das tristezas e angústias.
Falemos do dinamismo a Norte, do futebol!
Do Futebol Clube do Porto (FCP).
É também ele um modelo de organização, talvez (quem pode negar?) estratégia incisiva e rica do Norte de Portugal.
Instituição que o Estado Novo sistematicamente hostilizou, lateralizou. Hoje quase ignorado, com a sua arrogância, do poder central.
Tombaram os ícones, a concorrência instalou-se, o FCP ficou “competitivo”!
Competitivo e vencedor. Dentro e fora.
Afastado o populismo do poder, gradativamente, com firmeza, com estratégia, o FCP virou sensação internacional. O povo adoptou-o, ligou-se-lhe, com sentimentos, festa, alegrias, com dores, angústias, sofrimentos. Isso tudo, sobretudo a festa indelevelmente conexada às vitórias constantes, fez do FCP um símbolo a Norte da cultura popular. Da sua gestão e administração, mas sobretudo do povo donde lhe vem a força e mesmo alguma mística.
Não falo de SADs. Antes só do clube, do futebol. No estádio, daí apoderando-se das avenidas, ruas, ruelas, recantos da cidade.
Na vitória, milhares de carros buzinam ensurdecedores. Bandeiras esvoaçam. Velhos e novos exibem, convictos, um “V” de vitória, ajustando os dedos da mão a preceito. Na derrota, choram, emudecem, mordem lábios de silêncios contidos e sofredores.
Deixemos, no oculto das Antas, os milhões de euros que por ali giram e gravitam. O povo, que vive alegrias e lambe feridas nas derrotas, é alheio às fontes, origens, modo de administrar, gerir, etc, desses outros milhões. É tolerante! Compreensivo, dissimula não saber, quando sabe. Em geral, não sabe. Quer a festa!
O futebol é uma manifestação de cultura popular, como as peregrinações a Santiago de Compostela. A cultura popular é despesista. Cara. O povo paga-a e não protesta! Só quer a festa, o futebol ou peregrinação.
A cultura elitista é mais cara, em tudo, até na festa que oferece. E não é a do povo, onde está ausente.
Pelo desporto, dito “Rei”, o povo paga o que se lhe disser. Sem regatear preços!
Nada ocorre ocasionalmente. Há uma administração que organiza, traça planos, tem procedimentos rigorosos, oferece o banquete em forma de futebol, este vira cultura popular.
O FCP é também cultura popular!
E marca indelével do Norte!
Procurador-Geral Adjunto
ALBERTO PINTO NOGUEIRA in "publico.pt"

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