domingo, 22 de agosto de 2010

AVB: "Jesus? Num monólogo é fácil passar mensagens"

Apesar das três vitórias consecutivas e sem golos sofridos, André Villas-Boas alertou para a necessidade de consolidar os processos de jogo e evitar erros defensivos. Pelo meio, alfinetou as certezas de Jorge Jesus, que, como se sabe, não costuma antecipar os jogos em conferências de Imprensa, fazendo-o só à Benfica TV. No diálogo de ontem com os jornalistas, Villas-Boas não deixou escapar a oportunidade para lembrar que, no rival, só há... monólogos.

Jorge Jesus afirmou que o Benfica será campeão. De que forma recebeu esta declaração?

A que jornalistas é que o Jesus disse isso? Em que conferência de Imprensa? Não estou aqui para criticar o modo de estar dos outros, mas a verdade é que as conferências de Imprensa desse clube são monólogos e as mensagens fáceis de passar, porque o seu treinador nunca é confrontado com perguntas. Nesse monólogo, Jorge Jesus disse que queria ser campeão. Nós também queremos ser campeões, o Sporting também e penso que o Braga tem o mesmo sentimento. Os resultados da primeira jornada não querem dizer nada e, aqui, partilho do raciocínio de Jorge Jesus, porque, no ano passado, todas as equipas empataram no primeiro jogo e depois consolidaram processos e entraram num rumo de vitórias que levaram até ao fim, sendo que o Benfica e o Braga conseguiram estendê-la até à última jornada. O que importa é a regularidade e, nesse sentido, este arranque fraco do Benfica e do Sporting não os atrasará significativamente na luta pelo título, estando nós numa fase tão prematura do campeonato.

Pinto da Costa pareceu não valorizar muito a vitória na Supertaça ao dizer que venceu uma taça a uma equipa de caceteiros…

Obviamente que foi uma vitória importante, num jogo em que estava em disputa um troféu. A partida foi como foi e penso que o presidente, nessa declaração, se refere aos lances duvidosos e de agressividade que todos puderam observar, assim como à quantidade de cartões vermelhos que deviam ter sido mostrados. É a isso que ele se refere e não pretende retirar mérito ao troféu conquistado. Para nós, esse triunfo já passou há algum tempo e não nos interessa apenas essa vitória. Também queremos vencer esta semana, chegar à fase de grupos da Liga Europa e conquistar um percurso regular sempre com a vitória no pensamento.

O FC Porto ainda não sofreu golos e já leva três vitórias. Tem sido difícil gerir um eventual excesso de confiança da equipa?

Não, porque também temos sido submetidos a pressão relativamente a algumas falhas de organização. A correcção desses defeitos chegará, como já disse, através da consolidação de processos decorrente dos treinos e dos jogos. O importante é que a equipa conceda cada vez menos oportunidades de golo aos adversários e continue a criar oportunidades suficientes para vencer os jogos. Esse é o nosso compromisso. Não há excesso de confiança absolutamente nenhum. Na pré-época também tivemos três vitórias consecutivas e um bom período de assimilação de princípios, que foi rapidamente colocado em causa por duas derrotas em Paris. Portanto, aqui não existe um clima de euforia. Há apenas um FC Porto com o compromisso de ganhar regularmente, e é dentro desse espírito que queremos abordar os próximos jogos, de forma a agarrar o primeiro lugar o mais rapidamente possível.

Tem falado constantemente da necessidade de consolidar processos de jogo e eliminar o erro. Para quando uma equipa à sua imagem?

Essa pergunta é injusta. Não podemos estar todas as conferência de Imprensa sob o fantasma dessa pergunta. O que me parece é que quando o FC Porto vence, esses triunfos são justificados com a dinâmica de vitória ou por culpa dos processos antigos que estão instituídos; quando não vencemos, são os novos processos que não estão assimilados ou as novas bolas paradas que não funcionam. Parece-me que há uma discrepância radical na análise deste novo FC Porto. O FC Porto é sempre uma equipa em construção. Neste momento, tentamos encarar os jogos de outra forma, em termos de circulação e posse de bola, isto sem qualquer tipo de crítica relativamente ao que aconteceu no passado. São processos que levam tempo, e em seis ou sete semanas não se consegue eliminar hábitos que perduraram muito tempo. Conseguimos mudar alguma coisa, aproveitar outras de positivo do passado, e criar um conjunto forte e com uma diversidade de princípios de jogo. É um FC Porto que está em mudança, mas não nos podemos esquecer que é um FC Porto tetracampeão e que, por isso, não vamos cortar a direito com o passado.

Que análise faz ao comportamento da equipa neste arranque?

O FC Porto tem zero golos sofridos em três jogos oficiais, mas também é verdade que se deixou expor em alguns lances. Por isso, há que consolidar o processo defensivo para não deixarmos os adversários criar tantas oportunidades. Precisamos construir um bloco mais compacto e equilibrado.

"Estamos recuperados e na máxima força"

O FC Porto jogou na quinta-feira. Sente que a equipa está preparada para o jogo com o Beira-Mar?

Este curto espaço de tempo entre os dois jogos foi utilizado para recuperar os jogadores, até porque não dá para fazer outro tipo de trabalho. Sendo assim, aproveitamos a competição para continuar a assimilar princípios de jogo, uma vez que a mensagem não andará muito distante daquela que tem vindo a ser demonstrada. Nestes dois dias de treino recuperámos fisicamente e a consolidação de processos virá com a repetição de jogos. Encaramos este jogo com a consciência de que estamos recuperados e na máxima força.

Houve tempo para estudar o Beira-Mar e transmitir isso aos jogadores?

Sim. Estivemos reunidos hoje [ontem] de manhã e teremos mais reuniões amanhã [hoje]. Vamos seguir o mesmo plano de sempre. Observámos os vídeos do Beira-Mar, analisámos os nossos comportamentos relativamente ao adversário e ainda estudámos as questões relativas às bolas paradas.

Leonardo Jardim afirmou que não vai estacionar o autocarro à frente da baliza. Acredita num Beira-Mar de peito aberto no Dragão?

Não sei. Depende da filosofia e interpretação estratégica de cada um. O Leonardo Jardim é uma das pessoas que aprecio no futebol; tive o privilégio de o defrontar duas vezes no ano passado, uma num jogo competitivo e outra num amigável. Tem o meu respeito. É um treinador muito organizado e não tenho dúvidas de que as suas palavras são sinceras. Acho que o futebol fica a ganhar com esse tipo de abordagem ao jogo. No ano passado, na experiência que tive na Académica, fazia o mesmo. Apesar disso, respeito todo o tipo de enquadramento que os treinadores defendam, porque cada um joga com as armas que tem. No entanto, se essa for a sua forma de abordar o jogo no Dragão, respeitamos e achamos que privilegia o espectáculo.

Ukra vai manter a titularidade com o Beira-Mar?

Ainda há decisões que vou ter de tomar. O Ukra fez um jogo extremamente positivo na Bélgica e está presentemente a ameaçar um lugar na equipa titular.


"Não é impossível aparecer alguém a bater a cláusula..."

O mercado voltou à conversa. Villas-Boas não se alongou, nem mesmo sobre Otamendi, central que já assumiu estar a caminho. "Não sei se o processo dele estará assim tão concluído como se escreveu. Enquanto não estiver, esse ou qualquer outro jogador, poderão ou não ter interesse." O treinador foi um pouco mais expansivo quando abordou possíveis saídas, nomeadamente de Meireles e Fucile. "A resposta de que 'tudo pode acontecer' é a mais sincera que posso dar. Os jogadores estão agarrados às cláusulas de rescisão e, nesse sentido, apesar de esta época ainda não ter havido loucuras de mercado, não é impossível que apareça alguém a bater com o valor da cláusula de rescisão de um jogador."


Hulk na selecção: "Já podia ter ido mais vezes"

Hulk voltou a ser chamado à selecção brasileira e André Villas-Boas não esconde ter ficado "satisfeito" com a notícia, sobretudo num momento complicado da vida pessoal do avançado. Pelo meio, recordou situações que, segundo o treinador portista, impediram o brasileiro de ter sido chamado mais vezes no passado. "É um motivo prestigioso e honroso para nós. Um jogador da importância extrema, como é o caso do Hulk, já merecia ter ido mais vezes à selecção. Não esteve presente no Mundial, se calhar porque não lhe permitiram, uma vez que foi castigado com um conjunto anormal de jogos. Isso penalizou-o. Agora, esta nova oportunidade é gratificante e de louvar, tendo em conta que se trata de um jogador lutador e de grande qualidade."

Hulk terá de juntar-se à selecção no dia 2 de Setembro, em Barcelona, para um estágio em que Mano Menezes, o novo seleccionador brasileiro, procura outras opções para o ataque ao grande objectivo: o Mundial'2014, que se disputa no Brasil. Sublinhe-se que este será um momento exclusivamente para treinar, uma vez que a CBF não encontrou nenhum adversário disponível para essas datas.

Na eventualidade de falhar a contratação de Kléber, continua à espera de receber mais um avançado?

Sim… Voltamos às questões do costume. Continuamos com um plantel em construção até ao dia 31 de Agosto e tudo pode ainda acontecer.

in "ojogo.pt"

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