terça-feira, 31 de agosto de 2010

A volta ao FC Porto em 90 dias

O FC Porto regressou à liderança isolada do campeonato em Vila do Conde, precisamente 463 dias depois de ter usufruído pela última vez do primeiro lugar sem companhia. A derradeira ocasião que os dragões por lá tinham andado remontava ao final da temporada de 2008/09, altura em que conquistaram o tetracampeonato. Na época passada, e depois de um empate em Paços de Ferreira logo na primeira jornada, o FC Porto subiu ao terceiro lugar apenas à terceira jornada, posição que nunca conseguiu melhorar nos 27 jogos que se seguiram.

Agora, em apenas três partidas realizadas esta temporada, o FC Porto está de volta ao topo. De entre uma mão-cheia de principais "culpados" por este sucesso inicial dos portistas, há um que merece ser destacado: André Villas-Boas. Hoje, exactamente 90 dias depois de ter assinado pelo FC Porto, o treinador recolhe parte substancial dos méritos deste arranque demolidor, muito por culpa da transformação que conseguiu introduzir na equipa num ainda curto espaço de tempo. André Villas-Boas alterou a forma de jogar do FC Porto, tendo deixado cair as "transições rápidas" de Jesualdo Ferreira para escolher um estilo de maior posse e circulação de bola. Neste contexto, conseguiu resistir à perda de símbolos como Bruno Alves e Raul Meireles e ganhou alguns jogadores que pareciam destinados ao insucesso com o seu antecessor; para referir apenas o caso mais flagrante, salta à vista a transformação que tem vindo a sofrer Belluschi. O médio argentino ganhou uma nova vida com a chegada de Villas-Boas, sobretudo porque a sua forma de jogar se encaixa na perfeição no novo modelo dos portistas.

Mas há mais: esta ideia que se segue pode ser perigosa, tendo em conta o protagonista em causa, mas bem se pode atirar para a discussão a possibilidade de Hulk atravessar o melhor momento da carreira. Se os argumentos teóricos não forem suficientes para suportar esta convicção, sobram os práticos: seis golos em apenas quatro jogos.

Nestes primeiros 90 dias de Villas-Boas nem tudo está perfeito - a defesa continua a tremer... -, mas as bases para o sucesso estão bem lançadas. E, como o próprio treinador referiu no final do jogo com o Rio Ave, a equipa "está cada vez mais consistente". Agora, segue-se o Braga, no primeiro grande teste da equipa para o campeonato.

Bom momento da equipa potencia individualidades

A história repete-se sempre que as equipas atravessam um momento igual ao do FC Porto; às vitórias surgem sempre associados alguns protagonistas. Neste caso, há vários: Helton porque ainda não sofreu golos nos cinco jogos que realizou esta época; Belluschi porque parecia um caso perdido com Jesualdo Ferreira e surge agora num grande momento; e, claro, Hulk pelas excelentes exibições que tem realizado, mas sobretudo pelos golos que já marcou.

Um sistema preferido mas ainda sem alternativa credível

André Villas-Boas nunca escondeu que o 4x3x3 seria o sistema táctico de eleição para este FC Porto, tendo por base dois factores: os recursos humanos que tem à sua disposição e, ainda, a habituação a este modelo de jogo dos jogadores que actuam em Portugal. Villas-Boas mudou o conteúdo, mas manteve a fórmula que esteve ligada aos sucessos mais recentes dos dragões. No entanto, e depois de nunca ter testado outro sistema nos jogos realizados durante a pré-temporada, o treinador optou por experimentar o 4x4x2 na recepção ao Genk, aproveitando o triunfo folgado da primeira mão. Contudo, depois do primeiro golo dos belgas no Dragão, Villas-Boas mandou aquecer Varela durante algum tempo, ponderando o regresso ao 4x3x3, num sinal de alguma desconfiança relativamente à experiência. O golo de empate de Hulk fê-lo voltar atrás.

463

O FC Porto regressou à liderança isolada do campeonato 463 dias depois de por lá ter passado. Na última temporada, os portistas nunca conseguiram melhor do que a terceira posição, que ocuparam consecutivamente entre a 3ª e a 30ª jornada. Por isso, é preciso recuar ao final da época de 2008/09 para encontrar o Dragão no topo da classificação.

21
Durante as primeiras seis vitórias da época, André Villas-Boas já utilizou 21 jogadores dispersos pelas três competição que os portistas já disputaram. De fora, por opção, ficaram Kieszek, Rafa, Sereno e James. Por razões distintas, mas conhecidas, também ainda não se estrearam esta época os argentinos Otamendi e Mariano.

6
Uma última referência aos números do FC Porto neste arranque de temporada: seis jogos, seis vitórias, 15 golos marcados e apenas dois sofridos. Mas há mais no ainda curto currículo de Villas-Boas: uma Supertaça conquistada, liderança no campeonato e apuramento para a fase de grupos da Liga Europa.

A voz dos adeptos

Manuel Carvalho

"Vão vulgarizar o discurso que a liga nacional não presta"

"Com o FC Porto à frente, é normal que se vulgarize o discurso que a liga nacional não presta ou que estamos onde estamos exclusivamente por obra e graça de Hulk. A liderança do FC Porto é sempre um mistério que Lisboa não consegue entender. É verdade que, exceptuando aquela noite de gala contra o Benfica, a equipa ainda não deslumbrou. Mas ganha porque é a mais forte e a que quer mais ganhar. E porque Villas-Boas sabe ajustar as equipas aos seus adversários. Só não entendo muito bem aquela substituição de um extremo por um homem para o miolo na qual o treinador tem insistido. Pelos resultados, porém, resta-me acreditar que o problema é meu".

Rui Moreira

"Ainda falta algo na defesa"

"Este FC Porto ainda não me encanta, mas é natural que assim seja, porque seria anormal dizer o contrário nesta altura. Mas é sem dúvida uma equipa que tem mais bola, pressiona mais e joga mais à Mourinho, de facto. Na defesa ainda falta acertar algumas coisas, mas é normal. Mas temos bons jogadores, como o João Moutinho e muitas alternativas de qualidade, como Rúben Micael e Souza. Fui um dos entusiastas da vinda do André Villas-Boas e está a revelar-se uma escolha muito menos arriscada do que muitos pensavam. Veio dar outro equilíbrio até."

Nuno Cardoso

"Vejo rasgos de génio"

"Esta equipa técnica parece estar a dar resultado, entrou com o pé direito e a estrelinha de campeão de André Villas-Boas brilhou contra o Benfica. Vai ser bonito seguir a evolução e a maturação desta equipa, porque ainda há muito a amadurecer, mas já vejo rasgos de génio e isso é muito bom. A defesa acaba por ser uma surpresa, feita com pessoal que já estava na casa, até tem estado forte, apesar de alguns lapsos. O Moutinho vai fazer uma boa época. Depois da injustiça de que foi vítima, estamos a ver um Hulk regressar em força para repor todo o valor que tem."

Miguel Guedes

"Villas-Boas tem equipa na mão"

"Se perguntassem à nação portista se este era o mundo perfeito, responderiam "quase". As vitórias têm sido saborosas. Mas "quase", porque o Benfica foi uma prova de aferição bem sucedida, os adversários do campeonato foram acessíveis e porque ainda há algumas deficiências próprias de uma equipa em construção, porque apesar de não sofrerem golos, há coisas a rever na defesa. Mas também porque sobreviveram às saídas de Bruno Alves e Meireles e continuam a jogar e a caminhar para patamares altos. Os jogadores têm estado concentrados, mais motivados e isso prova que André Villas-Boas tem a equipa na mão."

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