terça-feira, 24 de maio de 2011

O FC Porto teve “estrelinha”, mas nem precisava

Uma época de sonho é assim: tudo corre bem, mesmo quando corre um bocadinho mal. Nos primeiros minutos da final da Taça de Portugal, frente ao Vitória de Guimarães, aconteceu algo estranho ao FC Porto. Sofreu dois golos. Tinha, entretanto, marcado outros dois, mas pareciam notar-se os sinais de desgaste da longa época e das sucessivas comemorações, a última das quais apenas uns dias antes, com o passeio do troféu da Liga Europa pelas ruas da cidade do Porto.


E então mais um golo para os portistas. E outro. E o adversário falha um penalti, que daria o 3-4. E novo golo. Ao intervalo, após uma primeira parte alucinante no Jamor, a Taça de Portugal estava entregue, com um 5-2 que seria apenas ligeiramente retocado na segunda metade da partida. Para quem não é apoiante do FC Porto, torna-se quase irritante esta tendência do destino para ajudar a equipa do Dragão. O velho jargão futebolístico chama-lhe “a estrelinha dos campeões”. Esta época, não teve de brilhar muitas vezes.

A carreira interna e internacional da equipa liderada por André Villas-Boas foi de tal maneira avassaladora que se torna difícil encontrar adjectivos para a qualificar. Ficam os números. Alguns números. O FC Porto conquistou quatro dos cinco troféus que disputou (só faltou a Taça da Liga); sagrou-se campeão sem derrotas; conseguiu a maior diferença pontual de sempre para o segundo classificado; completou uma série de três triunfos na Taça de Portugal, feito inédito na história do clube; ultrapassou (ou igualou, conforme se conte, ou não, com a Taça Latina) o número de troféus ganhos pelo Benfica. E, já agora, voltou a gravar o seu nome numa taça europeia.

Fê-lo numa final da Liga Europa em que jogou um bocadinho menos do que se poderia esperar e perante um adversário (o Braga) que até jogou um bocadinho mais do que seria de esperar. E, no entanto, ganhou com lógica e justiça. A superioridade do FC Porto sobre toda a concorrência interna foi de tal maneira esmagadora que até consegue destoar, pela positiva, do panorama geral de domínio portista do futebol português nas últimas décadas.

Tal como um dia disse Isaac Newton, Villas-Boas viu mais longe porque subiu “aos ombros de gigantes”, sejam eles os homens que marcaram a sua ainda curta carreira (Robson, Mourinho) ou os que o antecederam no banco dos azuis e brancos. Mas o mais jovem treinador de sempre a conquistar uma taça europeia é um sério candidato a colocar-se ao nível dos que agora homenageia.

Posto isto, e numa altura em que já se aponta à época seguinte, resta saber como poderão reagir os seus mais directos rivais. O Benfica garante que vai investir forte e o Sporting promete uma atitude mais profissional. Terão de trabalhar muito. E bem. Se a máquina portista conseguir gerir com inteligência as inevitáveis saídas de jogadores, a tarefa não será fácil. E, nesse particular, a grande questão é perceber se Falcao fica ou sai. 

Hulk é um jogador portentoso, mas que exige uma equipa a jogar à sua medida. Já Falcao parece um daqueles tesouros que só se descobrem de muitos em muitos anos. O colombiano pode alinhar em qualquer equipa do mundo, não precisa de adaptações nem de grandes fanfarras. No Real Madrid, no Barcelona ou no Manchester United, onde quer que seja, basta darem-lhe a posição 9 e colocarem as bolas na área. Acresce que, pelo que dele se conhece, tem um temperamento cordato e é desarmantemente não-vedeta. E “só” custa 30 milhões. A única coisa surpreendente, nesta altura, é que se fale tão pouco em possíveis interessados...

Sem Falcao, os rivais do FC Porto poderão ter melhores hipótese de dar luta ao Dragão. Mas os adeptos portugueses, qualquer que seja o seu clube, só podem lamentar se mais esse grande talento deixar de pisar os nossos relvados. 

P.S. – Neste cenário de indiscutível supremacia interna do FC Porto, a única coisa que destoa é o discurso do presidente do clube. Viciado na estratégia do inimigo externo, Pinto da Costa insiste em lançar farpas ao Benfica, muitas vezes a despropósito. O FC Porto é, hoje, de outra galáxia futebolística. Continuar a insistir nesta guerra só serve para engrandecer artificialmente o rival


in "publico.pt"

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