quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vilas-Boas desconstruiu mito de Mourinho, Domingos foi demasiado cínico

1. Oito anos depois, André Villas-Boas ajudou a desconstruir uma parte do mito de José Mourinho que, justificadamente, ainda perdura no reino do Dragão. Desde ontem consagrado como o mais jovem treinador que alguma vez ergueu uma taça europeia, o técnico portista juntou uma Liga Europa às conquistas do campeonato português e da Supertaça Cândido Oliveira, podendo ainda acrescentar-lhe a Taça de Portugal, que disputa no domingo na final com o Guimarães. Uma época de sonho de um FC Porto que provou ser uma equipa de Liga dos Campeões, onde na próxima época terá oportunidade de parafrasear uma célebre frase do Special One (proferida em Sevilha, mas como que antecipando o que se iria passar em Gelsenkirchen): "inesquecível, mas não irrepetível"...


2. Não é a primeira vez que as expectativas saem defraudadas numa final e ontem a qualidade futebolística do jogo voltou a deixar muito a desejar. A primeira parte não valeu um cêntimo - foi mesmo escandalosamente pobre. Melhorou um pouco depois, mas, tudo somado, só acabaram por ver-se alguns "arabescos", sendo demasiado pouco o oferecido por duas equipas que, noutras alturas, já mostraram tanta finura e precisão. Perdeu-se assim a oportunidade de vender melhor o nosso futebol aos mil jornalistas e às 200 televisões que transmitiram a primeira final europeia falada em português.

3. O FC Porto mereceu o troféu porque foi claramente a melhor e a mais dominadora equipa em campo. Mas, esta época, é difícil encontrar outro jogo em que tenha criado tão poucas oportunidades. Para além do golo de Falcao, sobrou apenas um lance de Hulk em que a bola esteve perto de entrar na baliza. O Braga teve as mesmas duas chances, mas nem Custódio nem Mossoró (aqui com muito mérito de Helton) tiveram a melhor pontaria. E o único remate portista enquadrado com a baliza foi o que permitiu levantar a taça. 

4. Não houve nenhuma surpresa nos tripulantes e no plano de voo do FC Porto, mas Domingos Paciência surpreendeu com uma opção mais do que discutível. Compreendia-se que tivesse deixado (como deixou) Mossoró de fora, ao contrário do que fez com o Benfica, onde havia um golo para recuperar. Bem mais difícil de entender é que tenha também deixado de fora Leandro Salino e tenha preferido dar a titularidade a Custódio, mantendo na posição seis Vandinho. Em vez do habitual 4x2x3x1, viu-se um Braga desenhado em 4x3x3. Mas o que, no papel, até podia parecer um solução de maior risco, foi o contrário. Porque a linha do meio campo bracarense jogou sempre muito recuada. Custódio até era o elemento que, por vezes, surgia em terrenos mais adiantados (mesmo mais do que Hugo Viana), mas não ia lá para jogar, antes para não deixar jogar. 

5. O Braga começou o jogo demasiado dependente e obcecado em reduzir espaços e em atrapalhar a circulação de bola do FC Porto. É verdade que, desse ponto de vista, a estratégia teve êxito, porque raramente se viu a habitual mobilidade e fiabilidade do meio campo portista e muito menos os movimentos de rotura. O problema é que Domingos devia ter levado em conta que um adversário com craques como Hulk e Falcao pode sempre resolver individualmente o que o colectivo não consegue.

6. Domingos pode, claro, contrapor que Falcao só marcou o seu 17.º golo na prova porque Rodriguez cometeu o erro de palmatória que permitiu o cruzamento de Guarín. E pode acrescentar que a única diferença no jogo foi o facto de Mossoró não ter aproveitado o disparate similar de Fernando. Mas essa será sempre uma visão redutora de quem escolheu uma estratégia demasiado poltrona. Aliás, viu-se na segunda parte (já com Mossoró em campo e uma defesa mais alta) que o Braga podia ter tentado fazer as coisas de outra maneira, mesmo levando em conta o facto de Domingos se afirmar, cada vez mais, um treinador cínico e adepto da escola italiana.

7. O Braga devia ter jogado mais de 20 minutos em superioridade numérica. O árbitro fez jus ao título de "rei dos cartões" com que chegou de Espanha, mas perdoou um a Sapunaru de forma escandalosa. 


Bruno Prata in "publico.pt"

2 comentários:

Anónimo disse...

O ponto 7 desta crónica é simplesmente lamentável. A falta, é uma falta normalissima. Curioso é que até nmesmo este Bruno Prata parece não ter visto, ou não quer recordar, a entrada violenta de Silvio sobre Hulk. Essa sim, merecedora de vermelho directo. Sr. Prata, assim não vale !!!

P. Ungaro disse...

Realmente o BP não deve ter cisto a entrada do silvio sobre o Hulk na primeira parte ...

Um abraço