domingo, 24 de julho de 2011

Hulk: "Sou substituível porque o FC Porto ganhou muito sem mim"

Enquanto uns partem e outros piscam o olho ao mercado, Hulk puxa dos valores e assegura que não vira as costas ao FC Porto. A sua história na Invicta não se esgota em 3 anos e o Incrível fala de um projecto de títulos que prevalece sobre os cheques com que lhe acenam de outras paragens. Numa entrevista que olha para o passado e projecta o futuro, a estrela dos dragões comenta a hierarquia do balneário, as metas traçadas e o seu temperamento especial...

Três anos depois de ter chegado, já vimos tudo o que tem para mostrar?
Tive a felicidade de ganhar dois campeonatos e perdi um que não podia ter perdido, infelizmente. Cada época que passa aprendo mais e melhoro. Para nós, jogadores, nunca está bom. Em relação ao que fiz no ano passado, sei que posso fazer melhor e vou trabalhar em cima disso para ganhar mais títulos com o FC Porto.

Os adeptos podem esperar mais de si?
Claro. É como disse, com o tempo vou aprendendo mais. Este ano vai ser melhor.

É possível manter o registo de golos? Na última época marcou 36...
É possível. Se não tiver lesões nem castigos, não vejo por que não posso fazer melhor. Vou trabalhar com humildade, mas sempre para melhorar dia-a-dia.

Sente que a equipa depende de si?
Fala-se muito sobre isso, mas eu procuro nem escutar. Se isso me sobe à cabeça, acaba por me prejudicar. Sempre disse que isto funciona como um grupo, como uma família. Os jogadores dão-se muito bem, tanto dentro como fora do campo. Quando se trabalha em colectivo, os resultados aparecem. Quando a equipa está bem, é mais fácil que as unidades se destaquem e é mais fácil eu mostrar o que tenho de melhor.

Foi esse conceito de família que o fez aceitar continuar no clube?
Só tenho de agradecer o carinho da direcção e dos treinadores com quem trabalhei. Sempre me ajudaram bastante. Se eu saísse agora seria um ingrato. Sou grato porque me receberam muito bem, sinto-me bem quando chego aqui para trabalhar. Se ainda não saí é porque não chegou o momento. Quando tiver que sair, que seja bom para ambas as partes.

E já vale os 100 milhões de euros ou ainda vai lá chegar?
Esse negócio de cláusula de rescisão não me interessa, procuro é focar-me no meu trabalho e deixo isso para a direcção do FC Porto e para os meus agentes.

Há três anos, na apresentação aos sócios, parecia espantado a olhar para o estádio. Ainda tem esse impacto ao jogar no Dragão?
Foi a primeira vez que vi o Dragão cheio e fiquei surpreendido. Senti que havia uma interrogação em relação a mim. "Quem será esse Hulk?" Ninguém me conhecia, o futebol do Japão e da Ásia não passa. Ninguém conhecia o meu estilo de jogo e aquilo que eu podia render. Quando comecei a jogar ocupei o meu espaço e hoje sinto-me em casa no Dragão.

Sente-se um ídolo?
Sim, consegui o meu espaço e quero mantê-lo. Acho que tenho um bom entendimento com os adeptos e quando entro em campo todos esperam que dê o meu melhor pelo FC Porto.

O presidente disse, aliás, que o Hulk é o único insubstituível do plantel.

Quando se recebe um elogio do presidente, ainda para mais alguém com a sua história e o seu nome, tenho de me sentir lisonjeado, mas procuro que não me suba à cabeça. Todos os jogadores dão o máximo e podem decidir um jogo. Eu acho que sou substituível, até porque o FC Porto já ganhou muito sem mim. Fico muito feliz pela confiança que o presidente tem em mim e procurarei retribuir da melhor forma, mas acho que todo o plantel tem qualidade para decidir jogos. Vejo todos de igual forma.

"Braçadeira é só um acessório a mais"

Hulk não vai mudar se entrar na hierarquia dos capitães. O brasileiro diz que o líder é Helton, mas conhece as suas responsabilidades e vai exercer o seu papel qualquer que seja o estatuto que lhe reservarem.

Depois da saída do Mariano, está preparado para ser capitão?
O capitão é o Helton e a equipa está bem servida a esse nível. Ele tem muitos anos de casa e tem o respeito de todos. Não penso na braçadeira, quero é jogar. Independentemente de ser capitão, há sempre comunicação e entreajuda. No FC Porto, não é só o capitão que fala, mas o Helton merece a braçadeira e não há razões para mudar.

Mas há mais capitães e um deles saiu...
Isso é com o mister. A minha preocupação é jogar, não ligo muito para isso porque para mim é só um acessório a mais no equipamento. É claro que a responsabilidade aumenta, mas quem me conhece sabe que faço isso sendo ou não capitão. A minha função será a mesma.

Mas sente-se um modelo, uma referência?
Quem chega respeita-me e sinto-me feliz por isso. Quem chega conversa comigo e procuro ajudar. Tenho três anos de clube, mas até parece que são mais...

"Vítor Pereira? Não ficamos a perder"

Conta ter Falcao ao seu lado?
Ele renovou, portanto... Fico feliz, porque é decisivo e o FC Porto fez muito bem em segurar todos os jogadores. Queremos manter o futebol do ano passado e até melhorá-lo com a chegada de alguns jogadores. Queremos voltar a ser campeões e chegar o mais longe possível na Champions. Sem perder a humildade, quem sabe até ganhá-la! Quando se está num clube grande, só podemos pensar grande.

Que lhe parece o Kléber?
Como todos têm visto, é um finalizador, um jogador de área. Todos os que chegaram têm qualidade para lutar por uma vaga. Já lhes disse que vamos ajudá-los porque eles também vieram para ajudar.

Fala-se muito em continuidade face à época passada, mas o que lhe pergunto é se o projecto não tinha o cunho do treinador? Acha que se pode perder algo com a saída de Villas-Boas?
Todos sabem que ele é um grande treinador e uma grande pessoa, que se dava muito bem com todos os jogadores. Mas não ficamos a perder, porque já conhecemos o mister Vítor, já conhecemos o trabalho dele. Já nos ensinava muito e agora que assumiu como treinador tem tudo para vingar e para dar continuidade ao nosso bom momento. Desejo-lhe sorte e que Deus o abençoe para nos dar muitos títulos.

"Aprendi a não falar tanto"

Ainda não percebeu as razões da sua expulsão frente ao Borússia Moenchengladbach, mas reconhece que servirá de exemplo para moderar o seu temperamento. Justifica algum descontrolo com a obsessão pelas vitórias...

Na época passada não viu nenhum vermelho, mas ainda fica revoltado quando acha que as decisões são injustas. Ainda "esquenta" muito, como dizem no Brasil?
Infelizmente, às vezes há lances em que sei que estou certo, mas quem manda é o árbitro e tenho de aceitar. Nem sempre é fácil, porque no jogo estou de cabeça quente e quero ganhar. Quando há um lance duvidoso e estamos a perder ou empatados, acaba por se perder a cabeça. Quem me viu no ano passado sabe que não levei cartões por reclamar. Aprendi muito aqui para não falar tanto, tenho é que respeitar.

E este episódio da expulsão na Alemanha?
Ainda hoje me pergunto por que é que fui expulso. Eu nem sei falar alemão e ele não queria falar inglês. Deu-me amarelo porque disse que tinha sido falta e depois bati palmas e disse "muito bem" e ele deu-me o segundo cartão. É passado, tenho é de me focar em ajudar o FC Porto.

Serve de exemplo para moderar o temperamento?
Lógico. Todo o mundo sabe que não gosto de perder nenhuma bola, que não quero perder nenhum jogo. Vou estar sempre focado em dar o máximo, mas às vezes quero tanto ganhar que aparecem situações em que se perde o controlo. No ano passado não aconteceu isso e também não vai acontecer este ano.

Acha que vai perder a Supertaça por causa daquele momento?
Não, de certeza que não. Os adeptos do FC Porto podem estar descansados que vou estar em campo para essa final.

"Tenho de enganar os adversários"

Raramente tem lesões ou é poupado, mesmo em competições como a Taça de Portugal ou a Taça da Liga. Como é que se faz a manutenção de uma máquina destas?
Graças a Deus nunca tive uma lesão muito grave. Procuro alimentar-me bem e trabalhar para jogar sempre. Quero que o treinador conte comigo para todos os jogos, o meu objectivo é jogar o máximo.

Se pudesse acrescentar algum atributo ao seu jogo, o que seria? Marcar golos de pé direito ou de cabeça?
Isso são situações de jogo... A perna esquerda é a minha perna forte e é lógico que é ela que me vai dar mais golos, mas não penso nos meus defeitos. Se houvesse algo que pudesse mudar, seria não ter sido suspenso. Aquela suspensão prejudicou muita gente e prejudicou a equipa.

A sua imagem de marca é o remate em força. Quando arma o pé esquerdo pensa onde quer meter a bola ou é como sair?
Por vezes sim, mas nem vou falar porque senão os adversários aprendem a marcar-me. Tenho de os enganar, fazer uma finta de corpo. Já sei que se puxar a bola para a esquerda não vou passar nunca, é o que todos esperam. No remate, tudo depende do sítio onde esteja. Às vezes pego-lhe em jeito, outras procuro a força. Tento diversificar.

in "ojogo.pt"

Sem comentários: