sexta-feira, 23 de setembro de 2011

F.C. Porto-Benfica, 2-2 (crónica)


Dois projectos em construção e com dúvidas de planificação. Uma igualdade com sabor e significados distintos para cada um dos lados. No Dragão, o hino de rebeldia assusta


Processos de edificação em curso. Dois projectos em busca de uma identidade afirmativa. 90 minutos depois, mais dúvidas do que conclusões. Para o F.C. Porto e para o Benfica. O empate a duas bolas é o fiel retrato da realidade actual. Com uma diferença importante, porém. O Benfica arrecadou uma igualdade no território do arqui-rival, a oito minutos do fim. 2-2, um ponto para cada lado e, insista-se, muito ainda por revelar nas próximas semanas.

«Here we are now, entertain us». Há duas décadas, o refrão tornou-se o hino solene da juventude rebelde. Nirvana, «Nevermind». A apologia do risco, da anarquia em forma de espectáculo. 20 anos depois, a nova versão do F.C. Portio insiste em ter um ponto de contacto com esta cultura. Vitor Pereira quer divertir, satisfazer a plateia, beber do futebol total e do culto da posse de bola.

Na teoria, óptimo. Na prática, o grupo não terá ainda assumido a ideia-mestra. Confundir um estilo de esteta, com uma postura de libertino só pode levar a maus caminhos. Este é o desafio a esculpir pelo técnico nos próximos jogos. Este dragão está a precisar de ser reeducado.

Distante da opulência de tempos recentes, da glória espalhada ao longo da última campanha, o F.C. Porto teve, ainda assim, a vitória na mão. Há, porém, que lembrar a alguns dos dragões que as medalhas de outras guerras são, nos tempos que correm, meros elementos decorativos.

Importa começar por aqui. Freddy Guarín, por exemplo, exibiu um excesso de confiança incompreensível. E não está em causa a qualidade individual do colombiano. Está, isso sim, a forma como a coloca à disposição da equipa. Toques de habilidade em zonas proibidas, relaxamento em períodos-chave, isso não.

Não terá sido, naturalmente, apenas por isto que o F.C. Porto deixou escapar duas vantagens no marcador. É estranho, de facto, perceber a quebra registada pelos dragões na segunda parte. Ao intervalo, o 1-0 sublimava uma superioridade evidente, alicerçada na consistência de João Moutinho, nas arrancadas de Hulk e Varela, na finalização perfeita de Kléber com a cabeça.

Até aí, o Benfica vivia numa lassitude, também ela, incompreensível. Recolhido, temeroso, incapaz de mostrar coragem para ter bola e futebol convincente. Uma timidez sem remissão. A auto-complacência morreria ao intervalo, provavelmente humilhada pelas palavras populares e inflamadas de Jesus. Não custa nada imaginar, pois não?

No primeiro remate à baliza de Helton, o Benfica fez golo. Perda de bola de Hulk, bola nos pés de Nolito e Cardozo a antecipar-se aos opositores. Um clamor a injustiça ecoou por todo o estádio. Nessa altura, ainda justificado, pois o F.C. Porto perdera, pelo menos, já duas situações claras de golo. Uma através de Hulk, outra por Fucile. Mérito, neste segundo lance, para a defesa quase impossível de Artur Moraes.

Ainda indignado pelo choque, o F.C. Porto voltaria a adiantar-se por Otamendi, logo a seguir. Debalde. A partir daí, a queda foi abrupta, vertiginosa, incompreensível. Fernando começou a cometer erros atrás de erros, Alvaro Pereira ficou sem pernas, Guarín deixou de correr e o Benfica cresceu, cresceu, cresceu. Até empatar. Novamente.

E mesmo nesse lance é difícil perceber como Nico Gaitán surge sozinho na esquerda. Onde andava Fucile? Depois, é tudo talento, tudo inspiração do argentino. Bomba de pé esquerdo, o travessão a abanar, e o resultado final estabelecido.

F.C. Porto e Benfica continuam ombro a ombro e olhos nos olhos. Pelo que se viu, justificadamente.



in "maisfutebol.pt"

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

Entregamos o ouro ao bandido

Uma primeira-parte excelente, fomos superiores em todos os capítulos e mereciamos pelo menos, uma vantagem de dois golos.

Depois, na etapa complementar, nem pareciamos a mesma equipa. Lentos, complicativos, sem frescura física e a dar abébias, fomos penalizados e o resultado, principalmente pelo que vimos até ao intervalo, deixa um sabor bem amargo.

Vítor Pereira, tem agir e não de reagir. São os pró-activos e não os reactivos, que têm feito história no F.C.Porto.

Abraço