sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mário Jardel e o Clássico: «Hulk vai decidir»


Aos 38 anos, o brasileiro pousa as chuteiras mas não perde o vício pelo golo. «Se estivesse no relvado, não falhava na cara do guarda-redes», diz ao Maisfutebol


Ninguém voava como ele sobre os centrais. Era super, era Mário Jardel. Conhecia todos os segredos do golo. Era o seu maior confidente. Ampararam-se épocas a fio; primeiro no Brasil, depois no Estádio das Antas, mais tarde em Alvalade. «Entrava em campo e sabia dentro de mim que ia fazer golos. Raramente me enganava.»

O tempo separou-os. Cravou as garras do cansaço, lançou-lhes em cima o peso de todos os anos, serviu-se da ingenuidade do ponta-de-lança, dos seus graves desvios de comportamento. Aos 38 anos, Mário Jardel decidiu descansar. Como qualquer bom guerreiro, aliás. Pousou as chuteiras, repensou a vida, decidiu vir a Portugal ver «bons jogos e procurar emprego».

Sexta-feira à noite, lá estará ele na bancada do Dragão. Há um clássico «imperdível», há «muitos atletas a observar», há «um coração portista em sofrimento». «Gosto muito do F.C. Porto e também do Sporting. Vivi coisas inesquecíveis nestes clubes. Se calhar nunca devia ter saído do Porto. Enfim, pode ser que o destino nos junte novamente», diz ao Maisfutebol.

Para o jogo, uma certeza: «o Hulk vai decidir. Se há alguém capaz de o fazer, esse alguém é o Hulk». «Joga muito, é uma bomba. É um dos melhores atletas do mundo. Espero que tenha mais oportunidades do que eu na selecção do Brasil.»

Kléber, Cardozo e Belluschi: a opinião do mestre

E, já que se falava da canarinha, qual a opinião de Mário Jardel sobre Kléber? «Foi chamado pelo Mano Menezes, certo? Isso não é surpresa, é a força do destino. Tem de ser um bom avançado. Ainda não o conheço bem, mas é forte. Com o João Moutinho, o Belluschi e o Hulk a apoiar tem de fazer muitos golos.»

Do outro lado, o paraguaio Cardozo. Colega de posição, senhor de «um pé esquerdo muito bom». «Está num bom momento e cheio de confiança. Pode ser um destaque do jogo, quem sabe? Mas não é fácil jogar no estádio do F.C. Porto», completa o antigo ponta-de-lança.

Há, curiosamente, dois ex-companheiros de equipa em jogo. Fernando Belluschi e Ezequiel Garay jogaram com Mário Jardel no Newell¿s Old Boys, em 2004. A memória não dá para tudo e o goleador-mor só se lembra de um deles.

«Sim, o Belluschi até veio ter comigo na Bulgária, quando o F.C. Porto foi defrontar o CSKA na época passada. Não te lembras de mim?, perguntou-me logo. Eu nem sabia que ele estava cá, no meu clube. Fiquei muito feliz, pensava que era outro Belluschi. Tem uma técnica notável, já na altura tinha. Era franzininho, corria muito e falava pouco», recorda Mário Jardel.

Novo desejo: ensinar a arte do golo

A benção do golo. Mário Jardel quer partilhá-la. «Sei tudo sobre essa arte. Se ainda estivesse lá dentro, no relvado, não falhava na frente da baliza. Mesmo com a minha idade. Falhar não é para mim.»

Ora, perante isto, Jardel sente ser chegada a hora de ensinar os outros. Portugal pode muito bem ser o ponto de partida para mais histórias. Todas belas. «Estou maduro, tranquilo. Até Dezembro ficarei na minha casa do Porto e aguardo convites para integrar uma equipa técnica. Tenho essa ambição. Quero continuar ligado ao futebol.»

Afinal, para Mário Jardel tudo é simples, muito simples. «Como fazer um golo? Eles olham para a bola no ar, eu faço que vou e fico. Quando eles olham já estou a meter a cabeça na bola. Aí não tem mais jeito, o Jardel não falha», dizia em 2 de Novembro de 2010 numa longa entrevista ao Maisfutebol. 

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