domingo, 1 de maio de 2011

AVB: "Ficou bem explícito que somos a melhor equipa portuguesa"

O discurso está estudado e não admite euforias desmedidas. Apesar da comparação implícita com o Benfica, André Villas-Boas não deu corda aos elogios à sua equipa - apesar de os ter considerado merecidos - e até fez questão de recordar reviravoltas do passado para garantir que a eliminatória com o Villarreal não está decidida. Sobre o jogo de hoje, com o Setúbal, mais do mesmo; para o treinador, adivinham-se... dificuldades.


Nos últimos dias tem-se assistido a muitos elogios ao FC Porto e sente-se que a equipa vive um clima de euforia. Como vai gerir essa situação?


No que diz respeito à Liga Europa, não faltam exemplos de grandes recuperações. Temos de nos manter alertados para essa possibilidade. Há um bom exemplo em 2003, quando o Deportivo da Corunha reverteu um resultado parecido numa eliminatória com o Milan. Este é apenas mais um indicador de que nem tudo é tão fácil como parece. Relativamente ao campeonato, este jogo é decisivo para o Setúbal. Joga com o FC Porto, Sporting e Portimonense nas jornadas ainda por disputar e necessitam de confirmar a manutenção. Esta será uma óptima oportunidade para eles. Estamos conscientes do que temos feito, mas também das dificuldades que vamos encontrar. Não será um jogo fácil e tudo poderá acontecer.

Guarín elogiou-o pela conversa que teve no intervalo do jogo com o Villarreal. Afinal, o que se passou?


Podem pensar o que quiserem, mas não há treinadores que mudem o rumo dos acontecimentos naquele sentido ao intervalo. Nem sequer houve alterações tácticas, ao contrário do que se escreveu. Mantivemos a nossa identidade, a mesma pressão, e só lhes disse que era apenas uma questão de eficácia, porque estávamos a conseguir fazer o nosso jogo. Estávamos a cruzar para a área e, normalmente, chegamos ao golo dessa forma. Na primeira parte não aconteceu, mas conseguimos na segunda. Nada do que disse foi revolucionário ou inovador para explicar a nossa segunda parte. Nesse sentido, registo a capacidade emocional que tivemos para dar a volta. Depois, a partir do 3-1, o Villarreal passou por um período de descontrolo emocional que nos permitiu chegar aos cinco golos. Mas, atenção: não é um resultado definitivo para o jogo da segunda mão.

No meio de tantos elogios, consegue encontrar algum defeito na sua equipa?


Isso não é relevante. Não sou eu que tenho de tornar público as pequenas falhas que podemos ter, até porque elas são diferentes de jogo para jogo. Não há um padrão nos nossos erros, até porque, se assim fosse, seria um sinal de que não estávamos a conseguir corrigi-los. Do que temos feito, há pouco de negativo a ressaltar e, com algumas alterações, temos conseguido anular esses eventuais problemas. Gostava também de salientar o nosso óptimo final de época, o que nos traz um sentimento de grande confiança. Mas pode acabar já em Setúbal. Eles perseguem o objectivo da permanência, tal como eu persegui no ano passado. Sei o que passa na cabeça do Bruno Ribeiro e dos seus jogadores e sei também que vamos ter um enorme desafio pela frente.

Não está a desvalorizar os elogios que se fazem à sua equipa?


Não e acho que são meritórios. Neste campo, a única questão que coloco é sobre a diferença de tratamento a nível nacional, porque lá fora sempre se reconheceu o que esta equipa estava a fazer. Em termos nacionais, especulava-se sobre quem seria o melhor e o pior, quem entretinha mais ou menos, e quem cumpria e não cumpria os objectivos. Felizmente, para nós, isso ficou bem explícito. Este reconhecimento pode, no entanto, acabar em estupefacção se não formos capazes de ganhar ao Setúbal, se não conseguirmos chegar à final da Liga Europa, e por aí fora. Tudo de bom pode tornar-se mau de um momento para o outro em termos de opinião pública, porque, para nós, há o sentimento de dever cumprido e orgulho uns pelos outros.

Considera que esta época será sempre positiva, mesmo que o FC Porto não vença mais nenhuma competição?


Sim. Claro que sim. O grande desafio do FC Porto passa por manter este nível de exigência e concentração máximos quando o objectivo já está atingido. Isso é algo que custa bastante. Não é normal manter-se um nível tão alto quando se é campeão a cinco jornadas do fim. Esse compromisso de exigência e profissionalismo dos jogadores ajuda a revelar a personalidade e o carácter. E foram estas qualidades que foram decisivas, por exemplo, para aquela segunda parte frente ao Villarreal.

Que ideia ficou da outra meia-final da Liga Europa?


Ainda não vi o jogo. Só vi o resumo e os golos. É um resultado que deixa tudo em aberto, com uma vantagem ligeira para o Benfica. E, agora, o Benfica defrontará o clube que lhe ganhou em casa, também por 2-1. Tudo pode acontecer.

Na eventualidade de não acontecer nenhuma catástrofe em Vilarreal, que equipa prefere para a final?


Não posso comentar... Pode acontecer mesmo uma catástrofe em Vila-Real [risos]. É a única coisa que posso dizer neste momento.

"Não falo com Mourinho"

André Villas-Boas está a despertar cada vez mais curiosidade por esse mundo fora. Prova disso foi a conferência de Imprensa de ontem, que voltou a receber a visita de um jornalista estrangeiro, desta vez do "Daily Telegraph". Durante mais de 15 minutos, a conversa seguiu em inglês; falou-se da grande temporada do FC Porto, da idade de Villas-Boas, do seu passado com José Mourinho, mas também do futuro. Entre algumas revelações, uma nunca antes assumida taxativamente: os motivos para ter deixado de trabalhar com Mourinho. "A separação aconteceu porque senti que poderia dar um pouco mais. Senti que podia começar a treinar, a trabalhar no campo. Se pudesse dar mais ao Mourinho tinha dado, mas percebo perfeitamente que ele não tenha sentido necessidade disso. Por isso, achei que era altura de arriscar", confessou, antes de admitir que não mantém qualquer tipo de contacto com o actual treinador do Real Madrid. "Não falo com José Mourinho. Não está relacionado com a separação, até porque falava muito com ele quando estava na Académica. É assim que as coisas são, nada mais que isso. Se é meu rival? Não. Não posso ser rival daquele que, na minha opinião, vai ser o melhor treinador de todos os tempos." Villas-Boas fez ainda questão de referir que a comparação com Mourinho não o incomoda. "As pessoas associam-me a um dos melhores treinadores do mundo e isso é algo com o qual tenho de viver. Mas não é um problema. As pessoas pensam que sou o seu sucessor, mas não sou. Sou um treinador normal e não me chamaria especial." O jornalista insistiu, porém, na comparação, até porque, segundo ele, Villas-Boas está a seguir exactamente os mesmos passos de Mourinho, até na escolha do clube, o FC Porto. "Nem eu, nem o FC Porto fazemos escolhas consoante o que o José Mourinho escolheu antes. São apenas coincidências que aconteceram. Estamos nas meia-finais da Liga Europa e as pessoas começam a pensar: é este o sucessor! Estão a conseguir os mesmos êxitos! Mas não é assim." O treinador do FC Porto confessou ainda que não está incomodado com a especulação em volta do seu futuro, para além de ter voltado a referir que pretende uma carreira curta. "Se ficar 15 anos no clube que adoro, por mim está bem", afirmou.

"Continuar? Estou farto de responder a essa pergunta"

Pinto da Costa afirmou que tinha a certeza que André Villas-Boas estaria no FC Porto na próxima época. Pode dar a mesma certeza aos adeptos?


Estou farto de responder a essa pergunta; não vamos arrastar essa pergunta... Não vale a pena. Não vejo nenhuma razão para não continuar cá na próxima época. Disse isso no final do jogo com o Villarreal e volto a dizê-lo agora.

"Dificilmente venderemos abaixo das cláusulas"

O dia seguinte à vitória sobre o Villarreal trouxe muitas notícias, lá fora, sobre o interesse de clubes nos mais variados jogadores do FC Porto. Villas-Boas, que ontem voltou a reafirmar a intenção de continuar na próxima época, espera manter por cá jogadores como Falcao ou Hulk. "Espero que fiquem. Obviamente, há as cláusulas de rescisão, para além da marca muito forte que é o FC Porto, não só pela qualidade dos seus jogadores, mas também pela forma como os costuma vender. O que sai daqui para a Europa é sempre um produto de qualidade. Quando outros clubes contratam ao FC Porto, sabem que levam os melhores jogadores do mundo. Ainda para mais, com a qualidade que temos apresentado, o valor dos jogadores subiu e aproxima-se das cláusulas de rescisão. O FC Porto dificilmente venderá abaixo desses valores. Temos de estar preparados para tudo e não vejo nenhuma razão para o FC Porto não corresponder; todos os anos têm saído oito, 10 ou 12 jogadores e sempre fomos capazes de nos reinventar para continuar a ganhar", explicou.

"Elogios de Pinto da Costa deixam-nos orgulhosos"

"Este FC Porto não é pior do que o de Mourinho. Penso até que é melhor. Está ao nível da equipa de 1987 [venceu a Taça dos Campeões Europeus]". As palavras pertencem a Pinto da Costa e foram proferidas no final do encontro com o Villarreal. André Villas-Boas ouviu os elogios, gostou, mas prefere continuar sem situar a sua equipa num patamar elevado da história do FC Porto. Pelo menos para já. "Na minha posição, não posso comparar. Foi uma comparação que o presidente fez, como homem emblemático deste clube e que viveu as duas situações. Para nós, tem um valor enorme, mas só ele poderá justificar essas afirmações. Obviamente que registámos com muito agrado as suas palavras, até porque sabemos o impacto que essa equipa de 87 tem para ele. Esse reconhecimento, vindo dele, é algo que nos orgulha bastante."

"É inacreditável a forma como Falcao marca os golos"

Depois do jogo com o Villarreal, Falcao percorreu as primeira páginas dos mais variados jornais internacionais. O "Olé", da Argentina, apelidou-o mesmo de Messi colombiano. Que pensa André Villas-Boas sobre o melhor marcador da equipa? "Não me queria alongar no individual, até por respeito aos outros jogadores. É verdade que Falcao teve uma noite mágica, mas ela foi trabalhada pela equipa. É um goleador nato, um talento formidável e tem capacidade de antecipação como poucos. Seguirá o seu percurso no FC Porto e, no futuro, onde muito bem entender, mas estará sempre ligado ao golo, porque facilmente os marca. Aliás, é inacreditável a forma como os marca."

in "ojogo.pt"


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