quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Rolando: o goleador que não gosta de abrir a boca


Em 2004/05, na estreia com a camisola do Belenenses, com meros 18 anos, demorou vinte e cinco minutos a marcar na Liga (3-0 ao Marítimo).


Rolando representa a selecção de Portugal. Joga no F.C. Porto. Nasceu em Cabo Verde. Gozou a adolescência no Alentejo, quando os pais biológicos estavam em Madrid. Uma roda-vida. Está no topo mas é a antítese de um herói. Gosta de marcar à primeira para logo dizer, com excesso de humildade: «Não me peçam isto muitas vezes.»

Na Supertaça de domingo, o central bisou. Demorou três minutos a balançar as redes. Um ano antes, fizera exactamente o mesmo. Obra do acaso? Nem tanto. Em 2004/05, na estreia com a camisola do Belenenses, com meros 18 anos, demorou vinte e cinco minutos a marcar na Liga (3-0 ao Marítimo).

Figura no actual F.C. Porto, ídolo em Cabo Verde e em Campo Maior, terra alentejana que o viu crescer, Rolando conserva o perfil reservado de outrora. Fala pouco, protesta ainda menos. É central, mas nunca viu um cartão vermelho. Enfim, é uma paz de alma.

Ídolo de São Vicente a Campo Maior

Nascido em São Vicente, Rolando deu os primeiros pontapés no Batuque Futebol Clube. Neste verão, foi homenageado na terra-natal. Pela mão do empresário João Cardoso da Silva, rumou a Portugal para jogar no Campomaiorense. Tinha 15 anos e despesas pagas. Precisava de companhia. José, amigo de escola, foi como um irmão.

«Um dia, o José chegou a casa e disse: 'mãe, tenho um amigo, é de cor, pode vir cá almoçar a casa'? Eu respondi-lhe logo que isso não importava, claro que sim, que viesse. Hoje em dia, é como um filho para mim.»

O relato emocionado vem de Rosinda Paio, a «mãe» por adopção. Em Campo Maior, é recordado com saudade. «Com o tempo, habituou-se a nós e ficou cá a dormir. Só pensava em ser jogador de futebol, mas era muito inteligente. Era o rei da matemática. Aliás, na escola onde andou, há uma placa com o seu nome. Estão à espera dele para uma homenagem», explica-nos.

«Ele acabou o 12º ano e chegou a meter os papéis para a Universidade, quando esteve no Boavista a treinar, mas o Boavista tinha excesso de estrangeiros e o Rolando acabou por ir para o Belenenses», prossegue Rosinda. Recuámos a 2003. O central despedia-se do Campomaiorense.

Treinou no Boavista, mas não só. Segundo Alberto Bastos Lopes, então técnico dos juniores do Benfica, o clube encarnado chegou a ter Rolando nas mãos. «Fizemos um relatório que a aconselhava a sua contratação», contou, ao jornal i. Alguém decidiu o contrário. O defesa acabou no Belenenses.

A felicidade entre o enorme trauma

Rolando despediu-se da família alentejana. Luís Manuel e Rosinda Paio ficaram como pais, Luís Miguel e José Duarte como irmãos. O segundo suicidou-se em 2007. Um trauma. «O meu José era benfiquista doente. Se ele fosse vivo quando o Rolando foi para o Porto, insultava-o logo.»

«Quando o meu filho se suicidou, o Jorge Jesus (então treinador do Belenenses) impediu o Rolando de vir logo a Campo Maior. Achou que seria um grande trauma. Mas o Rolando acabou por vir no dia seguinte», recorda Rosinda, entre lágrimas.

Felicidade interrompida. Até então, tudo corria de feição a Rolando. Lançado por Carlos Carvalhal, na primeira jornada da Liga 2004/05, assinalou a estreia com um golo. Em 25 minutos. Agarrou o lugar. Em quatro épocas, afirmou-se. O F.C. Porto reparou. Desde 2008, é uma referência portista. Fez sempre mais de 40 jogos/época. A Europa está atenta, mas Rolando foge ao estrelado.

«Ele é muito tranquilo, não gosta de entrevistas, não se mete em confusões. Quando cá estava em Campo Maior, se não falássemos com ele, ele não abria a boca. Queria sempre ficar em casa, no quarto, agarrado ao computador. Ainda hoje, é assim, discreto», remata Rosinda Paio, em conversa com o Maisfutebol.



in "maisfutebol.iol.pt"

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