sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pedro Spinola: " Não temos estrelas"

Pedro Spínola é um dos principais obreiros do tetracampeonato que o FC Porto conquistou à sétima jornada da fase final e que vai celebrar no sábado com os seus adeptos no Dragão Caixa. Um madeirense, de 28 anos, que vivia na margem sul do Tejo e que se adaptou muito bem ao Porto.


Este ano, o FC Porto ganhou o quarto título consecutivo e, aparentemente, de forma mais fácil do que os anteriores. Como se consegue tamanho domínio?

Com muito trabalho, muita dedicação, e tendo também uma boa equipa. Temos bons jogadores, não temos estrelas, o conjunto é o que temos de melhor.

Mas, teoricamente, os adversários fazem maiores investimentos. O Benfica até se reforçou com mais dois atletas do FC Porto, o Nuno Grilo e o Inácio Carmo...

Todos os anos compram jogadores, e nós, e eu estou cá há três anos, vamos perdendo um ou outro elemento, mas quem fica vai estando preparado para os substituir. Aconteceu comigo. Saiu o Inácio e, durante os dois anos anteriores, eu tinha sido preparado para quando chegasse a minha altura...

O Pedro fez um campeonato extraordinário, está nos primeiros lugares do ranking MVP. Estava tapado pelo Inácio Carmo e por isso não fez uma temporada assim antes?

No andebol, não há titulares... Nesses anos não jogava tanto, esta época joguei mais, mas se calhar joguei porque atrás de mim não havia ninguém em quem o treinador confiasse, porque senão ia sempre alternando, e é isto que o professor quer: uma equipa competitiva, com constantes trocas para o ritmo de jogo ser sempre alto. Algo que conseguimos, e é aí que está a grande diferença para as outras equipas; nós conseguimos durante o ano todo jogar um andebol rápido, o que cá em Portugal não se via muito, embora algumas equipas também já comecem a fazer o mesmo trabalho que nós fazemos. Mas essa é a grande diferença: enquanto eles começam agora, nós já temos este andebol há três anos, desde que o prof. Obradovic chegou. Mas voltando ao Inácio, julgo que a saída dele não foi boa: o Inácio é o melhor defesa do nosso campeonato, a defender é exemplar.

Esta foi a sua melhor época de sempre?

No FC Porto, foi, sem dúvida, mas também fiz uma temporada muito boa no Belenenses antes de vir para aqui. Foram as duas melhores épocas.

Estava a contar com o convite do FC Porto?

Não. Na altura fiquei surpreso, nunca tinha feito planos para sair de Lisboa, para vir para o Porto... Jogava andebol para me divertir, jogava andebol com os meus amigos, não era profissional, não o ambicionava, mas surgiu, aceitei e agora sou profissional.

E agora, como vê a mudança?

Sair da beira da família e dos amigos que tenho lá em baixo foi a parte má, mas por outro lado há a boa, de fazer só o que gosto. Sou um sortudo em poder fazer só o que gosto.

Deixou amigos, mas no Porto também já deve ter alguns...

Sim, já tenho. Eu não conhecia a cidade, não conhecia ninguém da equipa - só de jogar contra. Vim para cima só com a minha namorada e fiz amigos de equipa e não só, mas foi muito giro. Sempre fui muito bem aceite por toda a gente, gosto muito da cidade, é mais tranquila, não há muito trânsito, e só isso é espetacular. Em Lisboa, vivia na outra margem e demorava uma hora a chegar ao treino; aqui vivo em Vila Nova de Gaia, também do outro lado do rio, e demoro dez minutos. É uma diferença enorme. De resto, já conheço a cidade o suficiente, embora ainda não tenha feito uma visita à turista. Tenho uma vida tranquila e sou muito feliz no Porto. 

"Evoluí muito no FC Porto"

Apesar desses três anos de conquistas, esta equipa tem uma pedra no sapato que é cada vez maior: os sucessivos falhanços nos apuramentos para a Liga dos Campeões...

Este ano, para mim, foi o maior desgosto pelo grupo em que íamos entrar, com as melhores equipas do mundo. E depois de passar o adversário que seria o mais complicado, perdemos num jogo em que o Tiago foi desqualificado cedo, o Wilson se lesionou, o Gilberto já estava aleijado. Nunca tivemos a equipa completa e totalmente construída em nenhum dos apuramentos. No primeiro ano, o prof. Obradovic era novo e tinha outros métodos de trabalho, eu era novo e o Dario também - foi compreensível. No ano passado, em casa, a bola entrou um milésimo de segundo depois do que devia, e este ano não estávamos completos.

Ainda assim, três anos depois foi três vezes campeão...

Se na altura me dissessem que vinha para o FC Porto e ia ser sempre campeão, não sei se acreditava muito. É verdade! Não é fácil ser tetracampeão, e vê-se que não são assim tantas as vezes que se conseguiu isso. Além disso, evoluí muito. O trabalho é duro, mas tem de ser, é compensador. O prof. Obradovic é um trabalhador, é um excelente treinador que treina todos os aspetos, físicos e mentais. 

"Olsson veio cá uma vez, já conhece o pavilhão..."

A seleção de Mats Olsson tem lugar para apenas um jogador do FC Porto no seu sete titular, o Tiago Rocha. Como analisa o facto de a equipa tetracampeã nacional não ser muito tida em conta nas escolhas do selecionador?

É que ele não vem muito ao Norte, vê poucos jogos do FC Porto; aliás, nos três anos que levo no FC Porto Mats Olsson veio cá uma vez. Já não é mau, já conhece o pavilhão, acho que gostou, disse que era bonito, mas de resto mais nada. Não deve ver muitos jogos nossos. Eu dou sempre o exemplo do futebol e do Euro'2004, que foi a prova em que fomos mais longe: a Seleção utilizou a base do FC Porto, que tinha sido campeão europeu, e fomos à final. Mas no andebol não, porque, se calhar, o nosso trabalho não é bem feito... Quando jogamos com equipas da Macedónia, por exemplo, utilizamos uma defesa mais avançada, diferente, e ele podia aproveitar para ver o que se faz e não se ficar pelo 5:1 da Seleção. Mas não... E só tem aquele núcleo de jogadores e mais nada, estejam bem ou mal no campeonato. Eu não compreendo como é que um jogador que não está bem, que não é eficaz, continua a ser chamado à Seleção e, se calhar, até joga de início. Eu não compreendo. Não deve ser esse o critério, deve ir à Seleção quem está melhor - e quem está melhor, teoricamente, é quem ganha, quem é campeão, mas a verdade é que, daqui, só o Tiago é que é titular. Ele até chama o Gilberto, que é um caso de que nem vale a pena falar, e o Wilson, mas eles não jogam. 

"Se o Gilberto joga a ponta a mim metia-me na baliza"

E o Pedro, que nunca foi chamado... Com a época que fez, não acha que merecia? Não gostava de vestir a camisola da Seleção?

Acho que pelo menos uma chamada merecia e é claro que gostava; quem é que não gosta de representar o seu país? Mas se calhar noutras condições; para ser só mais um, lá encostado, não. Prefiro ficar aqui, treino com o prof. Obradovic, trabalho muito mais do que lá. É muito melhor do que ir para lá para se calhar me meterem na baliza... Se ele [Mats Olsson] chama o Gilberto para a ponta, a mim metia-me na baliza; se calhar nem sabe onde é que eu jogo. Para isso, prefiro ficar no FC Porto. Mas digo-lhe mais: Portugal tem jogadores rápidos e, no entanto, contra-ataque... zero; reposição rápida de bola... zero. Como é que quem não corre quer ganhar jogos? Portugal não tem jogadores altos para chegar ali em jogo organizado e, pumba!, lá para dentro. Dos únicos que temos, o Álvaro só defende... Por isso, quem é que vai chegar lá e atirar? 

in "ojogo.pt"


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