sábado, 23 de outubro de 2010

Adelino Caldeira: «Na dúvida árbitros decidiam contra FC Porto»

João Carrajola de Abreu, de 57 anos, foi o membro do Conselho de Justiça da FPF que esteve no centro de uma polémica que ainda se arrasta nos tribunais. Esta sexta-feira sentou-se no banco dos réus respondendo por um processo de difamação movido pelo FC Porto devido a uma entrevista na qual referia que o clube azul e branco e o Boavista tinham uma estratégia, que o então presidente do CJ da FPF (Gonçalves Pereira) validou, no sentido de alterar o sentido de voto daquele conselho no processo Apito Final.

A reunião do CJ aconteceu no dia 4 de Julho de 2008 e acabou sem a presença do presidente do conselho e do vice-presidente Amorim Pereira (que a abandonaram) mas com as decisões que são conhecidas que determinaram a descida do Boavista, por coacção sobre árbitros, a perda de 6 pontos para o FC Porto e a suspensão de dois anos de Pinto da Costa, por tentativa de corrupção.

Boavista e Pinto da Costa tentaram afastar Carrajola de Abreu da reunião decisiva aleganda incompatibilidade do mesmo, que pertencia à comissão da FPF que determina as indemnizações compensatórias por formação de jogadores. Gonçalves Pereira deu provimento aos dois requerimentos mas, como relatou hoje no tribunal do Bolhão, no Porto, a reunião foi tão tumultuosa que se viu obrigado a dá-la por terminada, tendo ficado apenas cinco conselheiros na sala que deram sequência à mesma e tomaram as decisões.

Adelino Caldeira, administrador do FC Porto, foi a primeira testemunha arrolada pelo FC Porto para afirmar logo que quem fez as afirmações que estão na genése deste processo "tem de provar aquilo que disse" porque tal teve "uma gravidade tremenda". Quanto ao que se passou em relação ao FC Porto, garantiu que o clube "nunca falou direta ou indiretamente com alguém da FPF ou da Liga sobre o processo" e a prova disso é que não há registos numa altura "em que todos tínhamos os telefones sob escuta".

Por isso, a tal estratégia que Abreu referiu "é completamente mentira". Ainda quanto à estratégia, o também responsável pelo departamento jurídico do FC Porto disse que a única que aconteceu "foi jurídica", passando a historiar de seguida o processo de recurso na UEFA e no TAS. "Ganhámos todos os processos nestas instâncias desportivas e nos tribunais criminais", acentuou.

Respondendo diretamente ao advogado de Carrajola Abreu (Rogério Alves, bastonário da ordem), Adelino Caldeira classificou a reunião do CJ que determinou os castigos como "a noite das facas longas". Apesar de tudo, "curiosamente o FC Porto acabou por ganhar 3 campeonatos na época do Apito Dourado embora tivessem sido muito difíceis de conquistar porque na dúvida os árbitros decidiam contra o FC Porto".

O administrador portista não teve dúvidas em considerar que a afirmação de Carrajola de Abreu podia ter prejudicado gravemente o FC Porto num momento em que o TAS estava a decidir um processo que acabou por ficar suspenso entra a instância disciplinar da UEFA e o Juri d'Apelle. "O conselheiro Abreu teria interesses em beneficiar clubes da sua zona para poder continuar a ser indicado como perito da FPF", argumentou ainda sobre o pedido de impedimento que Gonçalves Pereira deferiu mas que na prática não foi atendido.

A segunda e última testemunha arrolada pelo FC Porto foi...Gonçalves Pereira. O antigo presidente do CJ da FPF criticou Carrajola Abreu pela deselegância de algumas afirmações suas ("disse numa entrevista que com a minha saída se tinha aberto uma janela na FPF para sair o mau cheiro") e revelou que é assistente num processo contra o antigo conselheiro que vai correr no tribunald e Gondomar. "Não havia condições para prosseguir a reunião e por isso a dei por terminada, se continuasse acabava à bofetada", revelou. Pereira disse que chegou a ser interpelado por Abreu com um "vá para o raio que te parta!"

O julgamento prossegue próximo dia 29. Uma das testemunhas convocadas pela defesa de Carrajola Abreu é Amândio de Carvalho, vice-presidente da FPF, que esteve esta tarde no tribunal mas não chegou a ser ouvido. Também vão ser ouvidos, em próximas sessões, antigos membros do Conselho de Justiça que decidiu o Apito Final.

in "record.pt"

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