segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Entrevista a Rolando: «Vou ajudar Villas-Boas a ganhar muitos troféus»


Genes africanos, ADN de campeão, Rolando é um nome cada vez mais unânime na defesa do F.C. Porto. Aos 24 anos, o central de origem cabo-verdiano tem um longo caminho a percorrer e uma tarefa concreta entre mãos: fazer esquecer a perda de Bruno Alves.


A vida de Rolando Jorge Pires Fonseca deu uma volta completa desde o dia 31 de Agosto de 1985 até hoje. Da calidez de São Vicente restam as memórias e sensações, nada mais. Da pacatez de uma existência despreocupada, não há sinais. Não, nada.

Titular absoluto da Selecção Nacional, candidato a um lugar de proa na Selecção Nacional, Rolando vive pressionado pela exigência competitiva do dia-a-dia e pela necessidade imperiosa de conquistar, antes de mais, André Villas-Boas e a nação portista.

Os primeiros indicadores da época 2010/11 são-lhe inteiramente favoráveis, após ter passado os quatro jogos do Campeonato do Mundo sentado no banco de suplentes. O sucesso do novo ciclo do dragão passa muito por aquilo que Rolando conseguir conferir ao quarteto defensivo.

Em entrevista ao Maisfutebol, o marcador do primeiro golo frente ao Benfica, na Supertaça, parece convencido da competência de André Villas Boas.

«Estou a gostar muito de trabalhar com ele. Trouxe métodos inovadores, diferentes e está a ser óptimo treinar às ordens dele», diz-nos o número 14 do F.C. Porto, certo de que as boas ideias e intenções morrem no esquecimento se não forem acompanhadas de troféus.

«Já se sabe que no fim o trabalho de um treinador resume-se ao número de títulos que conquista. Vou ajudar o André a ganhar muitos troféus, porque também me estarei a ajudar a mim e à instituição.»

O terceiro lugar na Liga está atravessado na garganta de Rolando. O defesa central do F.C. Porto teve de «aturar» comentários pouco agradáveis nas férias e não quer voltar a passar pelo mesmo. Em entrevista ao Maisfutebol, Rolando assume que nem tudo correu bem na época 2009/10 e exala ambição na hora de projectar o novo ano desportivo.


Num regresso à meninice e à vida dura na sociedade cabo-verdiano, o internacional português fala dos sonhos de criança e ainda das dificuldades passadas nos primeiros anos em Portugal. A recompensa do presente «no melhor clube português» atenua as agruras de um passado nem sempre recompensador.

O Rolando que joga hoje no F.C. Porto é muito diferente daquele que vivia cheio de sonhos em Cabo Verde?

«Com certeza, muito. Saí de lá com 15 anos, ainda com pouca consciência sobre a vida. Portugal é um país muito mais desenvolvido. Cresci muito desde que cá cheguei, aprendi muito com a cultura portuguesa e mudei grande parte dos meus hábitos.»

Nessa altura, ainda em Cabo Verde, imaginava ser possível chegar um dia a um clube como o F.C. Porto?

«Não imaginava, sinceramente¿ quer dizer, tinha os meus sonhos de menino. Na escola, quando me perguntavam o que queria ser, respondia sempre a mesma coisa: jogador de futebol. A minha família e os meus amigos tentavam desencorajar-me, porque em Cabo Verde ninguém é profissional de futebol. Por isso comecei a pensar que tinha mesmo de vir para Portugal. Tinha essa ambição e consegui cumpri-la.»

Quando saiu do Belenenses em 2008 teve vários convites e optou pelo F.C. Porto. Porquê?

«Escolhi este clube porque é o melhor de Portugal e um dos melhores da Europa. Não o digo por dizer, basta olhar para os números dos últimos anos. O Porto prova anualmente que é o melhor. Persegui este sonho e tornei-o realidade. Não foi fácil, encontrei muitas barreiras pelo caminho e sofri muito. Agora estou bem, estou óptimo.»

Sente-se realizado na sua vida profissional?

«Em parte. Sempre que alcanço uma meta, penso de imediato noutra. Tenho ainda muitos sonhos por cumprir e objectivos por alcançar.»

E para este ano quais são essas metas?

«Ser campeão nacional, acima de tudo. Vamos fazer o possível e o impossível para isso suceder. O ano passado fizemos o que pudemos, embora reconheça que algumas coisas não correram bem. Acho que percebemos o que aconteceu e há que corrigir isso para seguir em frente. O F.C. Porto tem de estar na frente, seja qual for a competição.»

O terceiro lugar na Liga do ano passado custou a digerir?

«Ficar em terceiro num clube com a dimensão do Porto é mau. É muito complicado passar as férias e ter de aturar as pessoas que gostam de outros clubes. Se tivesse sido campeão nacional, era só receber parabéns. Assim, o período de descanso neste Verão foi bem pior. Não quero voltar a ser terceiro.»

Sem Bruno Alves, a principal referência no eixo da defesa do F.C. Porto passa a ser Rolando. O antigo capitão rumou a São Petersburgo, deixou uma herança pesada e uma imagem inigualável de raça e carisma. As comparações são quase sempre injustas e neste caso não é diferente.


Em entrevista ao Maisfutebol, Rolando assume a pressão de ser titular do F.C. Porto, enche de elogios o agora atleta do Zenit e refuta o rótulo de patrão. Seguro nas palavras, o internacional português acredita que os dragões estão bem servidos de opções para o centro do quarteto defensivo.

Maicon e Sereno merecem palavras simpáticas por parte de um dos heróis da Supertaça Cândido Oliveira. O golo marcado ao Benfica e a exibição seguríssima terão servido para aliviar a preocupação nas hostes portistas. Rolando começa a impor-se e não quer falhar no maior desafio da sua carreira.

Sem o Bruno Alves, a pressão sobre o Rolando vai aumentar. Concorda?

«Concordo e isso só me dá motivação. Se aumentarem a pressão sobre mim vou ficar muito satisfeito, porque é sinal que as pessoas acreditam que posso dar ainda mais.»

Sente-se com capacidade para ser o patrão da defesa do F.C. Porto?

«Não gosto dessa expressão. O nosso patrão é o Pinto da Costa. Sei que com o tempo e mais jogos posso desempenhar um papel importante dentro da equipa. Todos temos de perceber qual a nossa função no clube.»

O Sereno é, para já, a única cara nova no lote de centrais. É uma mais-valia?

«Já o conheço há mais de dez anos. Tivemos muitos duelos no Alentejo. Ele jogava no Elvas e eu no Campomaiorense. Éramos grandes rivais. Tornou-se num grande amigo e está a tentar ganhar o seu espaço neste grande clube. Não é fácil, a pressão é enorme, mas tenho a certeza que ele vai conseguir. Tem muita qualidade e é um homem humilde.»

O Bruno Alves saiu para o Zenit. O F.C. Porto fica bem servido de centrais?

«Fica. O Bruno é um atleta espectacular, deu muito ao Porto e à selecção e adoro jogar ao lado dele. Mas estamos bem servidos. O Maicon esteve a aprender durante um ano, participou em jogos importantes e conhece bem a casa. O Sereno, como disse, é um jogador tranquilo e de grande qualidade. Fez-lhe muito bem a passagem por Espanha.»

in "maisfutebol.iol.pt"

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