sábado, 2 de março de 2013

O que é um clássico? É Totobooooolaaa

Na história da liga,o Sporting é o rei da selva nos clássicos (42v, 17e, 19d). No século xxi mantém-se essa tendência (4-4-3)


Sporting. A prova dos noves(ou noves fora, um)
Numa época em que os três grandes são treinados por estrangeiros (o austríaco Gutkas no Porto, o austro-húngaro Lipo Herczka no Benfica e o húngaro Joseph Szabo no Sporting), a sede de vingança paira no covil do leão, depois dos escandalosos 10-1 com o FC Porto em Março de 1936.
Na primeira oportunidade, o Sporting devolve a humilhação (9-1 em Abril de 1937). O FC Porto entra em campo entre a espada e a parede. Ninguém questiona a capacidade de Gutkas, mas a verdade é que o técnico tarda em apresentar resultados (apenas oito pontos em 18 possíveis).
Quando chega a Portugal, Gutkas traz um jogador alemão que prometera causar furor. Afinal Müller nem sequer calça na primeira equipa do FC Porto. Assim, Gutkas tem de se contentar com os outros dois reforços estrangeiros: o médio argentino Reboredo e o defesa brasileiro Vianinha, presente nos 10-1 do Ameal pelo Sporting! e que custara ao FC Porto a módica quantia de 21 contos, mais de metade da receita de bilheteira dessa tarde dos nove-um (36 contos).
Ao intervalo já há 3-0, com bis de João Cruz – que, mais tarde, em Dezembro de 1940, ganharia a fama de durão por partir a cabeça ao guarda-redes portista Bela Andrasik num clássico muito mais tarde – e um golo de Soeiro. Na segunda parte, o Sporting carrega ainda mais no acelerador. Pireza (47’ e 57’) e Cruz (60’) marcam pelo Sporting, enquanto Pinga (48’) lá faz o ponto de honra dos nortenhos.
Para acabar em beleza, o hat-trick de Soeiro, que já havia marcado no primeiro tempo. O avançado assina o primeiro póquer do Sporting na história dos clássicos. Seguir-se-ia João Martins, em Fevereiro de 1953, num 5-1 em Alvalade.
Empate. Três penáltis e seis golos (um deles de museu)
No tempo em que a expressão futebolística de divisão de pontos para o empate tem razão de ser por ser um ponto para ali e outro para ali, Sporting e FC Porto assinam espectáculo de assinalável grandeza com seis golos, à mesma hora de um outro Porto-Lisboa no Bessa entre Boavista e Benfica (2-2).
Em Alvalade, a primeira parte é avassaladora. O Sporting abre a contagem aos 12’, num penálti de Rui Jordão. O Porto empata aos 17’ pelo galês Walsh, a aproveitar-se de um alívio deficiente de Meszaros, complementado por um toque desastrado de Mário Jorge. De repente, o Porto adianta-se. Miranda Dias, o árbitro de Coimbra, apita penálti de Virgílio. Com frieza, Gomes remata forte, 2-1 aos 25’. Num ritmo frenético, Jordão empata. É o golo da jornada, do mês, do ano, do próprio Jordão? Bom, não sabemos. O que sabemos conta-nos Eurico.
“Quem o marcava nesse dia? Eu. Antes de mais, adoro o Jordão. É um ser humano muito, muito, muito sui generis. É coerente e inteligente. Um dos meus melhores amigos do futebol.” Okay, e o golo? “Às vezes ainda discuto com ele sobre se ele fez de propósito ou não. É uma bola cruzada, tipo centro-remate, e ele antecipa-se ao defesa, que sou eu. Na antecipação, eu espero que ele controle a bola. Em vez disso, ele mete a parte lateral da bota, calcanhar, e atira à baliza do Amaral, que não tinha a mínima hipótese. Foi no topo sul do antigo Alvalade. Um golo de antologia. De museu.”
Portanto, 2-2 aos 36 minutos. Vamos para intervalo? Nem pensar._Aos 39’, Walsh bisa. E agora? O Porto de Pedroto defende-se como pode na segunda parte, mas Jordão completa o hat-trick, na transformação de um penálti evitável do guarda-redes Amaral.
FC Porto. O dragão mostra a sua raça (como os adeptos na 10-A)
Estamos em 1962 (primeira época desportiva do Totobola) e o Sporting caminha invicto rumo ao título nacional, que lhe escapa há três épocas. Com 10 vitórias e quatro empates, há até quem já o prenuncie campeão por antecipação, mas eis o dragão a mostrar a sua raça (1-0, por Azumir). É caso para festejar, afinal é a primeira vitória de sempre do FC Porto em Alvalade, inaugurado a 10 de Junho de 1956. Daí até a 4 de Fevereiro de 1962, três empates e quatro derrotas. À oitava é de vez!
Os sportinguistas estão inconsoláveis. Após um domínio avassalador, com dois remates ao poste (Morais, 43’, e Hugo, 48’) e um golo falhado de baliza aberta (Pacoti, 55’), é o FC Porto, em nítido sistema de contra-ataque, quem marca após bonita jogada entre Virgílio, Serafim e Azumir. O brasileiro está eufórico. “Quando assinei pelo FC Porto [no Verão de 1961], disseram-me logo que os dois grandes de Lisboa eram os melhores clubes de Portugal e aqueles com quem nós deveríamos lutar pelo título de campeão nacional. Ora já ganhámos ao Benfica [2-1, a 3 de Dezembro de 1961] e agora ao Sporting, em pleno Estádio de Alvalade. E eu marquei nos dois jogos! É uma sensação incrível.” É sim senhor.
Autor do golo decisivo mas não o melhor em campo para o “Record”. Esse é o leão Fernando Mendes, que ainda se recorda da maneira atribulada como sai de Alvalade. “Os adeptos estavam à nossa espera na 10-A e tivemos de ouvi-los, estavam irados.” O treinador Juca (Sporting) não está preocupado. “A equipa rendeu o normal. Só não apareceram os golos, uma vez por infelicidade, outras por mérito de Américo.” A verdade é que o Sporting é campeão (43 pontos), à frente de FC Porto (41) e Benfica (36).
Rui Tovar in  "ionline-pt"

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